O Efeito Manada nos mercados

       De longe, um dos fatores de maior importância – se não o mais importante – para o investidor que pretende obter resultados consistentes e acima da média no mercado de ações é o preparo psicológico. Nenhum outro fenômeno exemplifica tão bem a importância do controle emocional como o chamado efeito manada, especialmente no caso de atividades que inevitavelmente envolvem risco, como o Investimento.

             O efeito manada é muitas vezes o grande responsável por crises econômicas e consequências catastróficas no mercado, como foi o caso da famosa mania das tulipas, ocorrida na Holanda do século 17 e considerada a primeira bolha especulativa da história.

Efeito manada

            Sabendo do potencial castrófico desse efeito psicológico de massa, é vital entender como ele funciona exatamente e o que você pode fazer enquanto investidor para blindar o seu psicológico contra a atração muitas vezes magnética que o herd effect exerce sobre a mente humana.

Efeito manada: o que é

            Para ilustrarmos o efeito manada na prática da melhor maneira possível, imagine a seguinte situação: Imagine que você esteja em um ambiente fechado, talvez um cinema, um teatro, um prédio corporativo ou qualquer outro ambiente. Agora pense que você esta calmamente engajado no filme/peça/problema a ser resolvido quando de repente uma pessoa passa correndo ao seu lado gritando: FOGO!

              Se você é como a maioria das pessoas, isto irá chamar a sua atenção e te deixar em alerta para os seus arredores, mas dificilmente você irá sair correndo pelo simples fato de uma pessoa ter gritado fogo. Provavelmente você conseguirá se manter calmo e averiguar se realmente há algum perigo ou não.

              Agora imagine o seguinte. Uns 2 minutos depois, uma outra pessoa passa gritando FOGO! Novamente, e alguns segundos depois,um grupo de 3 pessoas passa correndo gritando a mesma coisa. Mais alguns segundos a frente, você vê um grupo de quase 10 pessoas correndo loucamente, vindas da mesma direção que as pessoas que você viu anteriormente.

             É aqui que o efeito manada começa a florescer. Seu cérebro começa a ficar confuso, você fica ansioso rapidamente e ofegante, seus níveis de nervosismo começam a crescer exponencialmente a cada segundo. Nesse momento, você não consegue mais pensar com clareza em nada, se esquece completamente do que veio fazer ali, e movido por um instinto de sobrevivência que se manifesta com cada vez mais força, somente um pensamento passa pela sua cabeça: sair dali o mais rápido possível.

             Vamos parar um pouco aqui e analisar esse cenário com mais calma. É provável, se pararmos para pensar, que nunca tenha havido fogo nenhum ou qualquer princípio de incêndio naquele local. Pode ser que as pessoas tenham se confundido ou interpretado algo de forma errada. É até mesmo possível que uma única pessoa tenha dado origem a tudo e, progressivamente, foi seguida uma a uma por cada uma das outras pessoas, que nem pararam para pensar e apenas seguiram o embalo.

             Entretanto, naquele momento nada disso importa para você, movido pela sua amígdala e pelo seu cérebro de lagarto (a parte mais primitiva do cérebro humano, responsável principalmente pelo instinto de sobrevivência), você só quer saber de correr em direção a porta. O. mais. Rápido. Que. Puder.

            É claro que nesse caso, esse impulso irracional de seguir a manada tem o seu valor. Entre sair correndo que nem um idiota de um perigo imaginário e morrer queimado em um prédio em chamas, é bem nítida qual é a melhor solução. O problema é que nem sempre o efeito manada atua a nosso favor e, nos investimentos e nos mercados financeiros, isso é verdade quase que 100% das vezes. Para entender melhor e aprender o que podemos fazer, vamos começar analisando um caso emblemático de efeito manada.

A Mania das tulipas

       A tulipa historicamente sempre foi considerada uma flor de grande beleza e harmonia, apreciada por artesãos, mercadores e pintores, que constantemente a desenhavam em seus quadros associada a conceitos abstratos e idealizados de pureza e perfeição estética.

Mania das tulipas

       A partir da segunda metade do século 16 as tulipas começam a ser cultivadas de forma sistemática e estruturada pelaEuropa e, a partir do fim daquele século, na década de 1590, as tulipas passam também a ser cultivadas na holanda, após a criação de um tipo especial da flor com pétalas mais resistentes capazes de suportar as condições climáticas adversas dos países baixos.

        Devido as próprias características da flor, rapidamente a tulipa se torna uma febre na Holanda, tornando-se um artigo de luxo e símbolo de grande status social. Assim se inicia a mania das tulipas e essas flores começam a crescer de preço de modo exponencial ao longo dos anos a media em que a competição para obter mais e novas espécies de tulipas se intensifica.

          Pessoas começavam a vender terras e animais valiosos em troca de alguns bulbos de tulipas. Negociantes de tulipas enriquecem rapidamente e cada vez mais centenas e centenas de pessoas entram no mercado de venda de tulipas do dia para a noite, aspirando enriquecimento a jato.

            A partir de 1636 as tulipas passam a ser negociadas na bolsa de valores holandesa. Com isso, naturalmente os especuladores de tulipas se multiplicam e o preço das tulipas começa a explodir novamente. Muitos vendedores passam a vender bulbos de tulipas que haviam acabado de serem plantados ou que ainda pretendiam plantar através de contratos futuros. Esse tipo de contrato para tulipas havia sido proibido quase 3 décadas antes, em 1610, mas ainda sim era utilizado em larga escala e negociado em tavernas em diversas cidades holandesas.

            A febre das tulipas crescia descontroladamente até que em fevereiro de 1637 os comerciantes notam que não conseguem mais continuar inflando artificialmente o preço da flor e, assim, decidem começar a vender em larga escala as tulipas. Essa notícia se espalha para o mercado e as pessoas começam a suspeitar que a demanda por tulipas não irá durar por muito mais tempo e isso gera a venda maciça das flores e o pânico se instaura no mercado. Contratos futuros a preço fixo deixam de ser cumpridos, com o preço em baixa da flor no mercado e pessoas que venderam ativos, terras e outros bens para especular com tulipas veem sua riqueza se deteriorar do dia para a noite. Nessa época, muitos membros da alta sociedade holandesa vão a completa ruína financeira. E assim se dá a primeira bolha financeira da história.

Mania das tulipas

            O interessante a se notar no caso das tulipas é que ele é uma exemplificação quase que perfeita do efeito manada e de como ele pode afetar um mercado de um modo repentino e avassalador. O preço das tulipas começa a crescer de modo bastante acelerado em um primeiro momento como fruto de uma real demanda da sociedade holandesa por essa flor, que começa a ser associada cada vez mais ao luxo e a sofisticação. Entretanto, pouco tempo depois desse cenário se verificar, os preços continuam subindo desenfreadamente devido simplesmente à expectativa de que os preços subissem (parece estranho né? Mas é exatamente isso que ocorre em uma bolha), e com isso começam a surgir especuladores em ritmo acelerado no mercado e pessoas comuns começam a se desfazer de seus bens para comprar tulipas na esperança de enriquecer rapidamente.

            Com isso, estava já armado o cenário que se desenrolaria logo em seguida, com o estouro da bolha. Inevitavelmente, o preço das tulipas, inflado artificialmente por expectativas irrazoáveis de aumento infinito do preço, geradas pelo simples fato de que muitas pessoas acreditavam que ia subir, o que estimulava cada vez mais pessoas a acreditar cegamente na mesma ideia, e assim sucessivamente. O efeito manada havia se formado.

Efeito manada nos tempos modernos: A bolha .com e o subprime

         Não faltam ao longo da história exemplos do efeito manada em ação, mas podemos citar aqui dois exemplos relativamente recentes a nível mundial. Uma é a recente crise dos créditos imobiliários subprime nos EUA em 2008, causada pela concessão indiscriminada de empréstimos imobiliários, causando uma onda de aquisições no mercado imobiliário americano muitas vezes por pessoas que nem utilizariam o imóvel mas buscavam apenas enriquecer rapidamente se aproveitando da alta acelerada nos preços (Soa familiar?).

                 Outro exemplo é a bolha .com ocorrida no início dos anos 2000, pouco tempo depois de surgirem as primeiras empresas de internet, à época a tecnologia recém criada e em explosivo crescimento. Aqui também é possível notar os mesmos padrões: empresas com ações sendo negociadas a preços exorbitantes levando-se em consideração seus lucros apresentados e mesmo muitas empresas que sequer apresentavam lucro ainda e viviam de rodada de investimento em rodada de investimento para se manter com preços totalmente fantasiosos na bolsa simplesmente poque a internet era vista pela maioria das pessoas como um mercado infinito que se expandiria sem limites.

bolha .com

                   O mais interessante da bolha .com é que mesmo gestores de fundos de investimento respeitados também emitiam a opinião de que aquele era um mercado que jamais retrocederia. Como não poderia deixar de ser, no final ocorreu o mesmo: pessoas que viram suas contas de investimento se transformarem em um décimo ou menos do que eram do dia para a noite, fundos de investimento fechando as portas, pessoas na ruína financeira e, claro, centenas e mais centenas de empresas de internet implodindo em curtíssimo espaço de tempo.

                 Atualmente, vemos uma possível bolha se formando na China, já abafada por intervenções do governo chinês mas que fatalmente estourará nos próximos anos, mas esse é um assunto para um próximo artigo. O objetivo deste aqui é que você aprenda a identificar o efeito manada se formando, seja em uma escala maior como os exemplos citados, seja em um nível menor, em qualquer situação na qual você esteja investindo e verifique que o preço de uma determinada ação começa a subir em disparada. Nosso primeiro impulso nessas situações é presumir que aquela ação deve possuir alguma vantagem que outras não possuem e que continuará subindo de maneira ilimitada.

                Nessas horas é que temos que possuir o controle mental e emocional para nos manter frios e tomar uma decisão de modo calculado: analisando friamente a ação em questão e verificar se existem dados reais que sustentem aquele crescimento. Quando fazemos isso, na maior parte das vezes a conclusão é de que não há qualquer motivo lógico para aquele investimento.

                  Mas você não pode tentar se aproveitar daquela volatilidade de preço apenas por um curto espaço de tempo para obter lucro em algumas operações e então se livrar do ativo em questão e partir para a próxima? Em tese sim, mas apenas se você possuir a racionalidade extrema para não se deixar fascinar pela ação em questão e rapidamente se livrar dela quando chegar a hora. Ainda assim, prefiro seguir a regra do grande investidor Benjamin Graham: nunca arriscar mais do que 10% do seu capital total em operações puramente especulativas.

Por hora é só. Para aprender mais sobre investimentos no mercado de ações, não deixe de checar: https://magodomercado.com/aprenda-como-investir-na-bolsa-de-valores-comecando-do-zero/

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