Conheça as lições de investimento de John Bogle

Vamos falar um pouco de John Bogle e aproveitar para fazer uma análise abrangente da metodologia do especialista em investimentos que é considerado uma das quatro principais referências históricas no mercado de capitais.

Começamos falando de um fundamento clássico para compra de ações de Benjamin Graham, considerado o pai da análise de ações. Os fundamentos criados por Graham estão na gênese do pensamento, além de Bogle, do laureado Warren Buffet.

Graham recomendava e praticava a compra de ações de companhias cujo preço estivesse fixado a no máximo 2/3 do capital de giro líquido. O capital de giro líquido é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. A característica principal dessas companhias é a capacidade de honrar com os compromissos no curto prazo e, num cenário ainda mais otimista, ter capacidade de investimento para suportar estratégias de recuperação e crescimento.

Sim, a ideia é investir em empresas em processo se liquidação, mas com alto potencial de recuperação. Esse potencial seria comprovado caso a empresa tivesse os seguintes fundamentos:

– boa estimativa de lucros futuros;

– boas perspectivas de crescimento no longo prazo;

– bons fundamentos administrativos;

– boa saúde financeira e boa estrutura de capital;

– bom histórico de pagamento de proventos;

– Dividend Yield satisfatório.

Nem é preciso dizer que, observando quem são seus discípulos, Graham é considerado o pai da análise fundamentalista de ações. O que nos leva ao Value Investing, a estratégia presente na cartilha dos principais nomes do século XX, quando surgiram as grandes referências e técnicas de investimento no mercado de ações.

Para quem ainda tem dúvidas sobre o tema, o value investing nada mais é que a compra de ações que estejam subvalorizadas em relação ao seu potencial de geração de rentabilidade sobre o capital, seja no aspecto da valorização, seja por conta da remuneração via proventos.

Basicamente, essas duas formas de remuneração sobre o capital refletem visões diferentes. Enquanto os proventos refletem o resultado real da empresa para os acionistas, que é o lucro líquido dentro do exercício e a participação dos mesmos nesse lucro, a valorização da ação reflete a visão do mercado acerca da condição futura da companhia.

Nem sempre, no entanto, o mercado espelhará de forma fidedigna essa visão de futuro, podendo ser subestimada, gerando oportunidades para quem souber ler os fundamentos da empresa e comprar, se possível, em grandes quantidades, os papéis da companhia. Se possível, deve-se adquirir uma participação que garanta poder na mesa de decisões da empresa.

John Bogle e a filosofia de custo mínimo

A partir do que podemos chamar de “commodity teórica” do value invest, temos cada um dos principais nomes do mercado oferecendo seu pacote de capacidades e estratégias peculiares, naturalmente apropriadas, por conta dos resultados demonstrados, por outros investidores. É assim que se constrói o conhecimento, não só na área de investimentos, mas em todas as áreas do conhecimento humano.

John Bogle

Bogle foi nada menos que o criador do primeiro fundo de índice da história, cuja principal premissa é de que dificilmente um investidor individual será capaz de bater o mercado, da mesma forma que, no longo prazo, a tendência da Bolsa de Valores é sempre de crescimento.

Vale ressaltar que os índices de que falamos são carteiras hipotéticas, geradas para entregar ao mercado uma visão das tendências, desempenho passado e presente do mercado de ações. O fundo Ibovespa, por exemplo, reflete o desempenho das companhias de maior liquidez do mercado brasileiro, cujas ações são responsáveis por mais de 80% das negociações na B3. Temos, também, o índice Nasdaq, que reflete, basicamente, o desempenho das empresas do setor de alta tecnologia, entre outros.

O fundo de índice nada mais é que a criação de uma carteira real que espelhe a composição desse índice, com cada empresa que o compõe tendo respeitada sua participação na referida carteira. Desse modo, ela reproduzirá, de forma mais ou menos precisa, as variações do mercado. Ou, em algumas hipóteses, o do respectivo setor ou nicho, já que temos múltiplos índices, cada qual refletindo a realidade do desempenho das ações de um grupo de empresas que possuam alguma característica em comum.

Graham categorizaria tal tipo de investimento como defensivo, o que quer dizer, em outras palavras, aquele em que o investidor estrutura uma carteira e deixa-a ligada no piloto automático, sem a necessidade de um esforço de gestão permanente.

É onde surge outro fundamento importante e grande contribuição de Bogle para o mercado, que é a gestão de custos. Fazer a gestão de um fundo de índice é o oposto, por exemplo, à gestão de um fundo de hedge. Enquanto o primeiro estrutura uma carteira para o longo prazo, o segundo busca rentabilidade quase que diária, com movimentos agressivos e sistemáticos para a obtenção do resultado.

A grande diferença, sem dúvida alguma, são as taxas de administração e de performance, baratas quando se trata de fundo de índice e caríssimas quando se trata de um fundo  hedge. A razão, mais do que óbvia, é que no segundo caso é preciso remunerar gestores full time e com grande capacidade de leitura dos movimentos de curto prazo do mercado.

Bogle morreu em 17 de janeiro de 2019, deixando como grande legado o Vanguard Group, além de alguns livros, com destaque para o primeiro: “Enough: The Measures of Money, Business and Life”.

Com sua política de custo baixo para o investimento, a Vanguard vem atraindo cada vez mais investidores nos Estados Unidos.  Para termos uma ideia do que representam os fundos em índice nos Estados Unidos, entre 2013 e 2016, os investidores colocaram US$ 823 bilhões em fundos da Vanguard. Estamos falando de valores líquidos, o que significa ter contabilizadas as entradas e saídas dos fundos.

Os dados são da Morningstar, instituição que faz o monitoramento do desempenho dos fundos, que aferiu que todos os demais fundos mútuos juntos alcançaram, no mesmo período, um saldo de apenas R$ 97 bilhões. Na ocasião, quase 75% dos investimentos nos fundos da Vanguard eram em fundos passivos. Uma das boas razões, embora não a única, é que a taxa de administração dos fundos passivos da Vanguard é de módicos 0,12% a.a.

Premissas de Bogle

Para podermos sintetizar a visão de investimentos de John Bogle, podemos nos concentrar em alguns ensinamentos atemporais:

1 – O primeiro passo é investir logo e sempre, pois o tempo é parceiro do investidor.

2 – Sempre se deve levar em conta o custo da rentabilidade obtida, pois este pode consumir grande parte dela.

3 – Equilibre risco, retorno e custos na composição de sua carteira de investimentos, usando como principal fundamento a simplicidade.

4 – Elimine as emoções e a impulsividade, pois essa dupla é a mãe dos erros. Use de estratégia bem fundamentada e racionalidade para se tornar imune à inconstância do mercado.

5 – Se a sua estratégia é bem fundamentada, siga-a, pois mudanças bruscas podem levar você a agir com base em estratégia alguma, que é o que de pior pode acontecer.

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