Por que a Libra esterlina é uma moeda tão valorizada?

As moedas são o produto de uma necessidade gerada pela evolução das relações comerciais entre pessoas, feudos e nações, num momento em que o tradicional modelo de escambo já não mais conseguia dar suporte às transações.

Nesse contexto, surgem as moedas, como forma de organizar as economias estatais. A libra esterlina é a mais antiga moeda do mundo ainda em circulação. Surgiu em 928, quando, sob o reinado de Athelstan, a Inglaterra começou, pela primeira vez, a produzir dinheiro.

Libra Esterlina
Sir Isaac Newton

As moedas eram feitas em prata, chamadas sterlings. No início, o sterling organizava as transações entre os feudos anglo-saxões e o restante da Europa. O lastro da moeda eram as reservas em prata da coroa, mas isso foi somente até o final do século XVII, quando, nomeado presidente da Casa da Moeda da Inglaterra, Sir Isaac Newton reformou o sistema monetário.

Foi em 1694 que foi criado o Banco da Inglaterra, considerado o primeiro banco central do mundo moderno. Na ocasião, o rei William III, à guisa de financiar o conflito armado contra a França, apropriou-se de todo o ouro do reino, dando em garantia uma documento do tesouro inglês, surgindo, assim, as primeiras notas de libra esterlina.

Foi ainda no final do século XVII que surgiu a marca d´água, como certificação de autenticidade do dinheiro, graças a uma tentativa de falsificação, que, a partir de então, foi institucionalizada como crime, tendo como pena a morte do falsário.

Até 1855, as cédulas eram assinadas à mão, assim como a moeda do Reino Unido era lastreada nas reservas de ouro até 1914. Desde a sua criação, a libra é chamada de Pound no Reino Unido.

O embate entre dólar e libra esterlina

O início do século XX trouxe muitas mudanças ao mundo e transferiu de Londres para Washington o núcleo de influência econômica e financeira no mundo.

A Inglaterra havia construído um verdadeiro império ao longo dos séculos anteriores, que ganhou impulso a partir do advento da Revolução Industrial. A influência britânica, forte na Ásia e na África, estendeu-se à América do Sul, além da colonização de grande parte da América do Norte até a guerra de independência dos Estados Unidos, no final do século XVIII.

A estratégia inglesa combinou ocupação militar, protecionismo e gestão política de seus interesses internacionais, levando a libra esterlina, consequentemente, a ser a moeda mais forte naquele período, mas tudo começou a mudar a partir do início dos grandes conflitos europeus na primeira metade do século XX.

Na ocasião, os Estados Unidos começaram a emergir como grande potência econômica. Durante aquele período, as economias europeias deixaram de lastrear suas moedas em ouro e a dívida alemã, referente ao espólio de guerra, já no período subsequente ao Tratado de Versailles, tornou-se objeto de disputa entre Estados Unidos e Reino Unido.

Com a Segunda Grande Guerra, devido aos esforços de guerra, os Estados Unidos transformaram-se em principais credores das nações europeias, o que deu origem à mudança do centro de poder mundial para Washington. Além disso, os Estados Unidos deram um passo importante ao identificarem o potencial de produção de petróleo existente no Oriente Médio, fixando e consolidando seus interesses na região.

Parte da política nos dois períodos pós-guerra consistia no financiamento das nações subdesenvolvidas, propósito que teve mais uma vez os Estados Unidos à frente. Em que pesem os esforços políticos e estratégicos ingleses para proteger a posição da libra esterlina, a consequência dos conflitos europeus foi os Estados Unidos espalhando a influência do dólar, controlando os esforços de reconstrução mundial e transformando sua moeda em referência monetária.

O episódio mais recente envolvendo a libra esterlina ocorreu durante o processo de unificação econômica da Europa. O Reino Unido resistiu à conversão de sua moeda ao euro e impôs a condição de sua manutenção para integrar o bloco econômico.

 

A força da libra esterlina

Mesmo no presente, a libra esterlina se mantém como uma das moedas mais valorizadas do mundo, perdendo apenas para as moedas de países com alta geração de receitas com petróleo.

Atualmente, perde em valor de compra somente para o dinar kwaitiano, o dinar bareinita, o rial omanense e o dinar jordaniano, sendo a quinta moeda do mundo em valor comercial, superando o euro e o próprio dólar americano.

Há alguns aspectos que explicam a força da moeda do Reino Unido. O país é a quinta economia do mundo, com um PIB de 2,8 trilhões de dólares. Londres, capital do Reino Unido, figura, ao lado de Nova Iorque, como maior centro financeiro global. Além de ter uma economia poderosa, Londres ainda conserva grande poder político no mundo.

Além dos países do Reino Unido, a libra esterlina estende sua influência aos territórios de dominação inglesa, como Bermudas, Ilhas Cayman, Gibraltar, Ilhas Malvinas, Anguilla, Ilhas Virgens Britânicas, Monte Serrat, Santa Helena, Geórgia do Sul e Ilhas Pitcairn.

O que explica a força da moeda britânica, no entanto, é a forte posição no comércio e no sistema financeiro mundial, o que significa um alto volume de contratos firmados em libra esterlina, o que mantém aquecida a demanda pela mesma, fazendo com que permaneça valorizada em relação ao dólar e às demais moedas.

Em outras palavras, a posição da moeda britânica é consequência da força de sua economia local e da grande influência que o país ainda exerce na economia mundial, com forte liquidez e geração de divisas, que sustentam a força da libra esterlina.

Atualmente, uma libra esterlina vale R$ 6,19 e US$ 1,22 (cotação em 16 de março de 2020).

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