Teoria monetária e os ciclos econômicos

Costuma-se dizer com bastante frequência que o capitalismo é cíclico, no sentido de que momentos de bom crescimento econômico sempre se alternam com momentos péssimos para a economia, muitas vezes com devastadoras depressões econômicas como a famosa crise de 1929, a crise dos subprime de 2008, e diversas outras, menos famosas, ao longo da história.

Essa suposta natureza cíclica da economia capitalista é utilizada como argumento para defender a ideia de que o capitalismo é um sistema falho, que necessariamente gera pobreza e desigualdade devido aos ciclos de retração. o problema com esse argumento é que ele falha no ponto principal ao não identificar o agente por trás das ações que levam ao ciclos contínuos de expansão e retração: O governo ou, mais especificamente, o Banco central, através de uma política monetária frouxa e emissão frenética de moeda.

A natureza cíclica da economia, portanto, não é algo inerente ao sistema capitalista por si só, mas sim a um capitalismo marcado por forte intervenção estatal no controle da moeda, precisamente o oposto do que o sistema de livre mercado propõe.

Nesse sentido, conhecer as diferentes teorias monetárias mostra-se essencial para entender o porquê crises econômicas surgem com frequência quase previsível e qual a solução adequada.

O surgimento da teoria monetária moderna

A moderna teoria monetária, baseada em grande medida em um afrouxamento da teoria clássica, com a consequente possibilidade de utilização pelo governo da emissão de moeda como forma de intervenção na economia, encontra alguns precedentes em outras teorias monetárias surgidas ao longo do século. A primeira delas, do economista alemão Georg Frederich Knapp, traz pela primeira vez a idéia de que o dinheiro é uma criatura do estado, ou seja, ele provém do estado e não possui valor nenhum por conta própria, derivando o seu valor da confiança dos demais players no cenário econômico mundial no emissor daquela moeda. Mais tarde, essa visão passou a ser conhecida como visão cartalista da moeda.

Teoria monetária moderna
Georg Frederich Knapp

A teoria monetária moderna, derivando dessa visão cartalista, baseia-se essencialmente na defesa da política fiscal como o instrumento adequado para a promoção do pleno emprego e a utilização da emissão de moeda como forma de custeio do gasto público necessário para tal. Da concepção de que o valor da moeda deriva da confiança no estado emissor, chega-se a conclusão necessária de que ela é um passivo estatal, já que é quase como se o tomador daquele dinheiro aceitasse um papel inútil e sem valor intrínseco apenas pela confiança no seu emissor.

Isso gera um problema conceitual se imaginarmos que o governo, além da moeda, emite títulos públicos para se financiar (ou seja, emite um passivo) e, na hora de pagá-los, se utiliza da própria moeda – que também é um passivo – para pagá-los. Em essência, portanto, o governo nunca paga suas dívidas.

Os ciclos econômicos e as crises

O grande problema dessa teoria é a ideia subjacente de que o governo é a solução para tudo. Todos os problemas da sociedade podem ser resolvidos com gastos públicos, e esses gastos podem ser cobertos com sucessivas emissões de moeda, essencialmente trocando um passivo pelo outro.

É claro que esse tipo de ideia tende a favorecer uma gestão pública totalmente displicente e gastos governamentais crescentes – seguidos de ainda mais emissão de moeda – que em algum momento irão gerar um problema incontornável para a economia, com o colapso do poder de compra da moeda.

O argumento dos partidários dessa teoria é a de que nem sempre o aumento da oferta ou do estoque de moeda necessariamente irá causar inflação.

Teoria monetária moderna
Ludwig Von Mises

Embora a definição corrente de inflação seja a do aumento do estoque de moeda, a verdade é que esta não é uma definição totalmente precisa. Se utilizarmos a definição de inflação de Ludwig Von mises, um dos maiores expoentes da escola austríaca de economia, veremos que inflação é o resultado de duas condições concorrentes: aumento da oferta de moeda sem que haja aumento na demanda por essa moeda.

Assim, se o governo emite moeda, mas a demanda por essa aumenta de modo concorrente, pois o mercado como um todo também aumentou a produção de bens, buscando vendê-los, então não ocorre inflação.

Acontece que, a longo prazo, considerando que o estado pode sempre emitir moeda indefinidamente, é muito difícil que a demanda por essa moeda sempre aumente de forma concorrente e na mesma proporção, levando fatalmente ao aumento da inflação. É isso o que já começa a se ver com o governo americano e seus pacotes trilionários de estímulo a economia por meio do FED, o que já vem ocasionando aumentos substanciais nos níveis de inflação do país, a ponto de alarmar os especialistas.

A teoria monetária moderna portanto, com seu perfil altamente heterodoxo, acaba incentivando uma certa atitude de sempre postergar o problema, “empurrando com a barriga” os problemas com mais e mais emissão de moeda, gerando um aumento artificial de liquidez na economia e suposto crescimento econômico, apenas para que a bolha estoure mais a frente e a economia seja jogada em uma vala de grande depressão. Assim, os ciclos de crescimento acelerado/ retração que são observados nas economias modernas se dão exatamente por causa da intervenção estatal demasiada, sempre buscando consertar problemas que nem existiriam em primeiro lugar se não fosse sua própria atuação.

 

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